domingo, 21 de março de 2010

COPENHAGUE E O PRODUTOR RURAL

Manoel Carlos Ortolan
Embora pareça uma discussão distante, a Conferência do Clima de Copenhague tem muito a ver com a atividade no campo e com o produtor rural brasileiro. O encontro será realizado entre os dias 7 e 18 de dezembro e seu intuito é estabelecer um acordo para a redução das emissões dos gases causadores do aquecimento global. Irá substituir os termos Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005 e termina em 2012.
A conferência é considerada o mais importante da história recente dos acordos multilaterais ambientais e há muitas expectativas em relação às metas de redução que serão apresentadas pelos países. No entanto, algumas decepções já são evidentes. Os Estados Unidos, que são os maiores emissores e que se recusaram a assinar o Protocolo de Kyoto, e a China sinalizam apoio à proposta da Dinamarca de empurrar a discussão para o próximo ano. Juntos, Estados Unidos e China são responsáveis por 40% das emissões.
Em outras palavras, não querem assumir compromissos de redução. É possível que até dezembro esses países mudem de posição, já que a repercussão foi bastante negativa, principalmente para Barack Obama, de quem o mundo espera uma atitude diferente da do seu antecessor, George W. Bush. No entanto, essa disposição em lavar as mãos poderá arrastar outros países pelo mesmo caminho e isso exigirá do Brasil uma posição bastante firme no sentido contrário.
O mais decepcionante é que as grandes Nações se mostram preocupadas com o aquecimento global, exigem de seus fornecedores o cumprimento de normas e procedimentos que comprovem que seus processos produtivos são sustentáveis, criando barreiras, certificações e selos de variadas naturezas. No entanto, na hora de assumirem compromissos para poluírem menos, tiram o corpo fora. Como são os principais mercados consumidores, adotam a postura do “façam o que mando, mas não façam o que faço”.
Como é um dos países emergentes de maior destaque, o Brasil também é um dos mais cobrados pela comunidade internacional. E está levando para a discussão a proposta de reduzir suas emissões em 39% até 2020 por meio da redução do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, recuperação de pastos degradados, integração lavoura e pecuária, expansão do plantio direto e ampliação do uso de energias renováveis.
O custo total para a implantação dessas ações é estimado em R$ 200 bilhões. Há pontos muito positivos na proposta brasileira, como a questão dos biocombustíveis, mas com certeza, a atividade agrícola, que carrega a pecha de poluidora, será cada vez mais cobrada. O mundo cobra do Brasil, que cobra do setor. E o produtor rural é que paga a conta mais cara.
Nesta semana, por exemplo, o jornal inglês Financial Times, publicou reportagem em que diz que o agronegócio brasileiro é “atrapalhado” por altos impostos, burocracia e “uma das mais rígidas legislações ambientais do mundo. “As leis obrigam os fazendeiros a preservar áreas florestais sem receber compensação alguma”, diz o jornal.
Com certeza, para dar exemplo ao mundo, o Brasil irá fechar o cerco cada vez mais contra o setor agrícola, baixando normas que poderão engessar o crescimento brasileiro. Enquanto isso, as grandes Nações e mercados se recusam a fazer a parte deles contra o aquecimento global. O que se espera é que o Brasil abandone a postura defensiva, de coitadinho, e exija que os demais países apresentem as suas metas. Se houver dois pesos e duas medidas, o produtor rural brasileiro é que vai pagar a conta se o encontro de Copenhague fracassar.

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